#1 Conversa com engenheiro: Guilhermino Fechine (Mackgraphe)

Na série Conversa com Engenheiro publicaremos uma entrevista com importantes nomes da Engenharia de Materiais. Nesse mês conversamos com um grande professor e pesquisador na área de grafeno do Brasil, o Dr. Guilhermino Fechine.

Biografia: Guilhermino José Macêdo Fechine possui graduação em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal da Paraíba (1996), mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Paraíba (1998) e Doutorado em Química pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Dois estágios de pós-doutoramento foram realizados na USP, um deles no Instituto de Química (2002 a 2005) e o outro na Escola Politécnica (2005 a 2007). Professor visitante da National University of Singapore – NUS durante todo o ano de 2013. Desde de 2008 é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, graduação e pós-graduação. Tem experiência na área de Polímeros, atuando principalmente nos seguintes temas: caracterização, degradação, estabilização, biodegradação e interações polímero-materiais 2D (grafeno, MoS2, hBN, fosforeno, etc). Faz parte da equipe do Centro de Pesquisa Avançadas em Grafeno e Nanomateriais, Mackgraphe.

guilhermino

1. Por que o grafeno é o material do século?

O grafeno é um material que já havia sido previsto sua existência há muitos anos atrás. Contudo, sua forma “livre” era dita termodinamicamente instável. Em 2004 os físicos russos Andre K. Geim e Kostya S. Novoselov conseguiram isolar o grafeno a partir de esfoliação micromecânica do grafite. Após ter sido isolado, foram feitas medidas e muitas propriedades avaliadas se tornaram superlativas, como por exemplo, material altamente condutor de eletricidade mesmo a temperatura ambiente; elevadíssimo Módulo de Elasticidade, impermeabilidade, e principalmente, área superficial em torno de 2700m2/g. Essa elevada área superficial unida a propriedades singulares, transformam-no num dos materiais mais interessantes do século.

2. Qual é a aplicação mais importante e promissora desse material?

As aplicações no campo da eletro-eletrônica, foram as mais indicadas logo após a “descoberta” (melhor dizer, isolamento) do grafeno. Devido, principalmente, a sua elevada condutividade elétrica e possibilidade de geração de dispositivos eletrônicos flexíveis, como os touchscreen. Contudo, área de supercapacitores, baterias, células solares e materiais compósitos são as áreas de maior demanda mundial para o grafeno para os próximos 10 anos.

3. Qual o principal desafio na produção do grafeno hoje?

O grafeno pode ser obtido por várias rotas, como por exemplo: esfoliação líquida do grafite, esfoliação química do grafite, método mecanoquímico, deposição química a vapor (CVD), entre outras. Contudo, é a produção em larga escala, que ainda demanda muitas pesquisas e pouco a pouco estão conseguindo avançar nesse sentido.

4. Você acha que hoje com o Mackgraphe o Brasil possui uma tecnologia na área do grafeno equivalente a outros países?

A criação do Mackgraphe (Centro de Pesquisa em Grafeno e Nanomateriais) da Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM é um marco no avanço da tecnologia em produção, caracterização, transferência e construção de dispositivos na área de grafeno e outros nanomateriais. O investimento inicial da Universidade (U$ 20.000.000,00) foi direcionado na construção de um prédio de 9 andares que estão dispostos laboratórios na área de Fotônica, Energia e Materiais Compósitos. Esse investimento uniu-se a um projeto Mackenzie-Universidade de Cingapura-Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), onde a FAPESP aprovou cerca de 5 milhões de dólares para compra de equipamentos. Visto todo esse investimento, aliado aos dois Programa de Pós-Graduação (mestrado/Doutorado) em Engenharia Elétrica e Engenharia de Materiais & Nanotecnologia da UPM, pode-se dizer tranquilamente que o Makgraphe se tornará um centro de excelência em grafeno no mesmo nível de outros centros espalhados pelo mundo em um curto espaço de tempo.

5. Você crê que o Brasil terá tecnologia suficiente para produzir comercialmente o grafeno?

Com certeza, visto que hoje temos no Brasil (no meu caso posso falar em nome do Mackgraphe) pesquisadores capacitados para produção de grafeno nas diferentes rotas citadas anteriormente. No caso do Brasil isso fica facilitado, pois temos as maiores jazidas de grafite do Mundo.

6. O que lhe motivou a trabalhar na área de Engenharia de Materiais?

Essa é uma pergunta bastante interessante para mim. Quando ainda no Colegial, minha escola fazia visitas a Universidade. No meu caso, visitei a Universidade Federal da Paraíba, Campus Campina Grande. Conhecemos diversos laboratórios, dentre eles entramos nos laboratórios de Engenharia de Materiais. A atmosfera no laboratório exalava diversos conceitos da Engenharia de Materiais que na época nem conhecia, mas mesmo assim, de maneira intuitiva me levou a paixão à primeira vista pelo curso. Lá vi “coisas” na área de seleção de materiais, ou seja, a escolha correta de um material para determinada aplicação; também vi a parte de processamento de materiais, ensaios de materiais, caracterização de materiais, dentre outros tópicos. O ambiente me aguçou a curiosidade para entender o que estava por trás disso tudo. Se você me perguntar se pudesse voltar no tempo e escolher um novo curso para me graduar, escolheria Engenharia de Materiais. A única diferença que agora faria o curso com muito mais cuidado e dedicação a disciplinas que naquela época não dava tanto valor. Tive que estudar muito após formado, pois existia algumas lacunas que não foram preenchidas no curso, tanto pela falta de dedicação que não tive em algumas disciplinas como também pela constante atualização que deve ser feita pelos profissionais dessa área.


Gostaríamos de agradecer ao Guilhermino por ter aceitado nosso convite e ter compartilhado seu conhecimento e suas experiências com todos nós.

Ficou com vontade de saber mais sobre o grafeno? Também já falamos sobre este material aqui no blog, você pode conferir o post aqui.
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12 thoughts on “#1 Conversa com engenheiro: Guilhermino Fechine (Mackgraphe)”

  1. essa iniciativa de vocês é muito boa, vai ajudar muito calouro a entender qual proposito da engenharia de materiais. Com o blog estou ampliando fronteiras de conhecimento da minha área e já almejando o mercado de trabalho quando sair da universidade. já favoritei aqui e vai ter minha visita diária adorei mesmo, parabéns as criadoras.

  2. Lembro do Guilhermino. No início da graduação (UFCG – 2003) em Eng. de Materiais assisti uma palestra dele. Parabéns pela bela e bem sucedida carreira. Eu também me apaixonei por esse curso e fiz Doutorado e talvez farei um Pós-doutorado.

  3. Olá, eu passei em engenharia de materiais na unesp (Guaratinguetá), será que eu devo fazer, ou realizar um ano de cursinho para tentar entrar em outra?
    obs.: estava pensando em fazer na UFSCar ou na USP de São Carlos.

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