De maneira geral, um pesquisador deve sempre acompanhar as últimas publicações de sua área, analisar as próximas tendências, se manter atualizado e olhar para frente. No entanto, às vezes olhar para trás também pode ser bastante útil, já que o passado transmite experiência e pode ter muito o que nos ensinar. A nanotecnologia, por exemplo, é considerada um campo de pesquisa recente, mas há um artefato romano de 1700 anos de idade que já utilizava conceitos dessa área e hoje serve de fonte de informações para os cientistas, o Copo de Licurgo.
A nanotecnologia está presente em muitas áreas, por exemplo desenvolvimento de produtos antimicrobianos, nanocompósitos, transporte de medicamentos dentro de nosso corpo, materiais muito mais flexíveis ou, no caso do artefato mencionado, modificação das propriedades ópticas de vidros. Esses materiais são normalmente transparentes, mas a partir da ação de nanopartículas e suas diferentes propriedades, quantidade e distribuição, podem atingir características bastante curiosas. No caso do Copo de Licurgo, que está exposto no British Museum, em Londres, é o efeito das nanopartículas o que mais chama a atenção: É possível observar uma mudança na cor do objeto de acordo com a forma em que a luz é incidida. Se a luz está atravessando a taça, vemos a mesma na cor vermelha, mas se esta está sendo refletida em sua superfície, o objeto apresenta-se na cor verde. A razão dessa mudança de coloração é o uso de nanopartículas de ouro e prata para modificar as propriedades do vidro.
Copo de Licurgo
Assim, a forma com que as nanopartículas são embutidas em vidro e a composição das mesmas faz toda a diferença no resultado alcançado, sendo este um tópico investigado pela University of Adelaide, na Austrália. “O Copo de Licurgo é um belo artefato que, por acaso, utiliza as interessantes propriedades de nanopartículas para efeito decorativo. Nós queremos usar os mesmos princípios para podermos aplicar as nanopartículas em todos os tipos de tecnologias avançadas”, acrescenta o professor Ebendorff – Heidepriem, da universidade mencionada.
As nanopartículas e nanocristais já vêm sendo pesquisados em todo o mundo e possuem aplicações interessantes, no entanto segundo o professor australiano “as propriedades únicas (dos materiais mencionados) são reforçadas pela incorporação de vidro”. Isso porque o vidro é amorfo, tem características semelhantes a de um líquido congelado. Dessa forma, serve de matriz para as partículas e consegue fixá-las bem, de forma a tirar bom proveito de suas propriedades. Ou seja, “um processo para a incorporação de nanopartículas com sucesso em vidro abrirá o caminho para aplicações como fontes de baixíssimo consumo de energia, maior eficiência para as células solares ou desenvolvimento de sensores avançados que podem ver dentro do cérebro humano.”
Atualmente, os cientistas estão pesquisando a melhor forma de incorporar nanopartículas em vidro, considerando sua solubilidade na matriz e como é modificada com a temperatura e a composição do vidro. Além disso, estão investigando a melhor forma de modificar e controlar essas partículas. Tudo isso sem esquecer de dar uma olhadinha para o passado, é claro.
Fonte:
Parabéns pelo trabalho.