O contrastante cenário da reciclagem no Brasil

De um lado, o Brasil é há mais de dez anos o país com o maior índice de reciclagem de latas de alumínio do mundo, com desempenho sempre superior a 90%. Recicla também em torno de 92% dos pneus e 70% do papelão que produz e é o país que promove a maior variedade de aplicações para PET reciclado. Por outro lado, o mesmo país tem um padrão de descarte equivalente ao dos países mais pobres do globo, pois apenas 40% dos resíduos vão para o local adequado, nível semelhante ao da Nigéria.  O restante dos resíduos é destinado para lixões a céu aberto ou deixa de ser reciclado, o que contrasta com o nível elevado de geração de lixo que o Brasil possui, que é similar ao de países desenvolvidos como Coréia do Sul e Japão.

Segundo estudos a respeito da reciclagem no Brasil, o quadro que vemos é resultado do distanciamento da reciclagem de seu objetivo inicial, a busca pela destinação correta dos resíduos, a proteção ambiental. A atividade no país é, hoje, conduzida essencialmente pelo interesse econômico, de forma que resíduos de baixo valor de venda são comumente ignorados por aqueles envolvidos na cadeia de reciclagem. Exemplo disso são os plásticos, que, apesar de recicláveis, são os materiais inertes mais encontrados nos aterros e lixões brasileiros. Isso acontece porque, em geral, gasta-se pouco para produzir a matéria-prima polimérica do zero, o que faz com que o material reciclado não seja tão valorizado. Outra característica que torna sua comercialização ainda mais prejudicada é a baixa densidade desses materiais. Como a venda de resíduo é feita por peso, precisa-se de uma quantidade em volume de plástico muito maior do que de metais para totalizar a mesma massa, a qual ainda poderá ter um valor de venda inferior à do metal.  A tabela da CEMPRE mostra o valor de comercialização de diversos materiais como referência.

Os ganhos econômicos são uma grande força motriz para a reciclagem, mas se mesmo o vidro, que quando reciclado gera 90% de economia energética em relação à produção primária (isto é, vidro novo), não é reciclado em quantidade proporcional a todo seu potencial (mais de 50% vai direto para os aterros), então imaginem a situação para materiais cuja reciclagem não tem grandes benefícios econômicos. Materiais como poliestireno expandido (isopor) têm um processo de fabricação que faz com que ocupem um volume enorme (baixa densidade), tornando-os pouco atrativos para comercialização. Soma-se a isso o fato de que apenas 7% dos brasileiros sabem que o isopor é reciclável e o resultado é catastrófico: ¼ do volume de nossos aterros sanitários é ocupado por isopor, uma quantidade alarmante (clique para mais informações).

Isopor em lixão ilegal a céu aberto. Fonte: O progresso

A reciclagem é importante para minimizar impactos ambientais e preservar nossos recursos naturais, que são limitados. Não fossem suas vantagens econômicas, nossos níveis de despejo incorreto de resíduos seriam ainda mais catastróficos. No entanto, a exploração econômica da atividade não resolve todos os problemas, como podemos ver principalmente para os plásticos. Assim, o que podemos fazer a respeito? Como engenheiros, otimizar processos para tornar mais atrativa a reciclagem desses materiais.  O incentivo à reciclagem de alumínio no país, por exemplo, fez com que tenhamos desenvolvido tecnologia de ponta na reintrodução desse material na cadeia produtiva. Voltar nossos esforços à reintrodução de outros materiais nessa cadeia também pode render resultados muito positivos. Já como população, devemos ter também consciência da importância de separar nosso lixo. Nem sempre as autoridades políticas em nossas cidades e estados fornecem um serviço de coleta seletiva, mas às vezes podemos encontrar por conta própria postos de coleta e fazer a nossa parte. Pressionar os políticos para disponibilizar esse tipo de serviço básico também é muito importante. Formas de fazer isso é pelo meio de petições na internet, campanhas nas redes sociais, envolver a mídia local, etc.

Abaixo, alguns links de petições pedindo por uma melhor destinação dos nossos resíduos. Caso conheçam outras, divulguem nos comentários.

https://www.objetivosdacompostagem.minhasampa.org.br/#block-4013

http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=P2012N23327

https://secure.greenpeace.org.uk/page/s/coca-cola-petition (Internacional)

Como incentivo extra para reciclagem em nosso país, veja como é possível fazer da medida uma forma de aumentar a sua renda.

Fontes:

O Desenvolvimento da Indústria da Reciclagem dos Materiais no Brasil: Motivação Econômica ou Benefício Ambiental Conseguido com a Atividade? Por Fábio Fonseca Figueiredo;

Brasil produz lixo como primeiro mundo, mas faz descarte como nações pobres. Por Giovana Girardi;

Classificação automática: para uma reciclagem de alumínio ainda mais rentável. Por Dal Marcondes.

 

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