Mercúrio: aplicações e impactos ambientais

No mês de maio de 2018 o Ibama realizou a maior apreensão de mercúrio ilegal de sua história. A carga de 1,7 tonelada chegou ao porto de Itajaí em março/2018 e seria destinada a garimpos ilegais na Amazônia. Em 02 de maio, a Receita Federal determinou que o carregamento fosse devolvido à Turquia, país de origem, no prazo de 30 dias. Desde agosto de 2017, o Brasil é um dos signatários da Convenção de Minamata, da Organização das Nações Unidas (ONU), que restringe o uso do mercúrio. Os próximos parágrafos retratam alguns dos usos atuais da substância, bem como seus impactos no meio ambiente.

O mercúrio dissolve facilmente chumbo, prata, ouro, estanho e metais alcalinos, formando ligas denominadas amálgamas. Por muito tempo, essas ligas foram usadas intensamente como obturações dentárias na odontologia, aplicação ainda hoje existente, mas já substituída significativamente por outros materiais. Essa capacidade de formar amálgamas é fundamental também para o uso de mercúrio na garimpagem do ouro.  O metal precioso é comumente encontrado na forma de pó na terra escavada pelos garimpeiros ou na lama extraída do leito de rios. Para tornar viável sua identificação e separação dos demais detritos, as pequenas partículas são atraídas pelo mercúrio e formam um agregado de amálgama. Em seguida, entra em ação uma segunda propriedade essencial do mercúrio: seus baixos pontos de fusão e evaporação. Basta um maçarico para que o garimpeiro consiga separar os dois metais e obtenha ouro puro, liberando mercúrio gasoso na atmosfera. O resíduo de lama restante, apesar de ainda contaminado por mercúrio, é frequentemente despejado no solo ou nos rios, gerando poluição ambiental.

Partículas de ouro em meio a sedimentos encontrados em leito de rio (Thinkstock/Getty Images)

Outra característica importante do mercúrio é sua elevada tensão superficial, que faz com que tenha uma molhabilidade baixa na maioria das substâncias. É uma propriedade essencial para a utilização do metal na técnica de porosimetria por intrusão de mercúrio e no interior de termômetros domésticos. No caso do ensaio de porosimetria, utilizado na caracterização de materiais porosos, o mercúrio não entra nos poros de um corpo de prova a menos que seja aplicada uma pressão externa, sendo possível relacionar essa pressão aplicada ao tamanho dos poros do material. Caso houvesse molhamento, parte do líquido entraria espontaneamente nos pequenos orifícios e esse tipo de análise não seria possível. A respeito dos termômetros, a elevada tensão superficial do mercúrio faz com que o líquido não se agregue ao vidro e torne a medição mais precisa.

Algumas outras aplicações do mercúrio são em lâmpadas, barômetros, circuitos elétricos, eletrodos para fabricação industrial de cloro e soda cáustica, interruptores elétricos e retificadores, catalisadores na indústria química e como conservante em vacinas. A tendência otimista para os próximos anos é que, com a assinatura da Convenção de Minamata pelo Brasil, o metal seja reduzido ou até eliminado de todas essas aplicações. Essa substituição do mercúrio por outras substâncias é relacionada a seus efeitos nocivos. O metal é altamente tóxico e se acumula nos organismos vivos, provocando consequências como dores no esôfago, diarreia, sintomas de demência, depressão, ansiedade, amolecimento dos dentes por inflamação, câncer, má-formação fetal, falha de memória e danos motores, auditivos, visuais e ao sistema nervoso central.

Um grande agravante da contaminação por mercúrio é o ataque do metal por bactérias anaeróbias que vivem no fundo de rios, o qual transforma o metal em dimetilmercúrio. Essa forma orgânica do metal se acumula ao longo da cadeia alimentar, causando a contaminação de peixes e daqueles que os consomem. Isso torna a aplicação do mercúrio em garimpos especialmente nociva, já que a contaminação das áreas fluviais torna o nível de mercúrio encontrado nos peixes amazônicos até cerca de duzentas vezes superior aos níveis aceitáveis. Um desastre também associado ao consumo de peixes contaminados ocorreu na cidade japonesa de Minamata. O acúmulo de mercúrio na população levou à morte de 880 pessoas e danos irreversíveis em mais de 2000 outras, levando o local a intitular a convenção mundial para redução do uso de mercúrio. Além da contaminação das águas, há a poluição do ar:  a concentração de mercúrio na atmosfera já aumentou três vezes nos últimos 100 anos.

Uma curiosidade: As medalhas da olimpíada de 2016 no Brasil foram produzidas com ouro mineirado sem a utilização de mercúrio.

Fontes:

Ibama – Ação do Ibama e da Receita no Porto de Itajaí (SC) impede a distribuição de 1,7 tonelada de mercúrio para a Amazônia;

Estadão – Operação apreende volume recorde de 1,7 tonelada de mercúrio que iria para a Amazônia;

O Eco – Porque o mercúrio é usado na mineração de ouro;

Quali – Mercúrio;

Portal São Francisco – Mercúrio

LMPT (UFSC) – Porosimetria por Injeção de Mercúrio

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